Baru torrado na mesa da cozinha, lua dourada, pés de pequi apinhados de flores, pôr-do-sol vermelho-fogo, noite com cheiro doce de jasmim-manga, conversas entre os cachorros donos da rua. No cerrado sertão do Vale do Rio Urucuia encontramos a Vila de Sagarana, pequeno distrito de Arinos (MG) cheio de histórias fiadas e recontadas. A pequena vila está a 700km de Belo Horizonte e 240km de Brasília. Fruto da luta social, foi o segundo Assentamento da Reforma Agrária implantado pelo Incra em Minas Gerais, em 1973.

O nascimento de Sagarana celebra o fim da perversa saga do coronelismo e o início da quebra da estrutura fundiária na região. Um território que abarca importantes ações em direção ao desenvolvimento sustentável e a pesquisas em tecnologias sociais no cerrado. Somado a isso, o imaginário do escritos João Guimarães Rosa, marcado no próprio nome da Vila, sublinha a realidade das prosas, causos e ensinamentos de mestres e mestras desse jeito de ser “Feito Rosa para o Sertão”.

Cerca de 500 pessoas habitam o povoado e se sustentam, principalmente, da pecuária leiteira,  agricultura familiar e extrativismo de frutos do Cerrado, como o baru e o pequi. Em Sagarana, encontramos mantidos modos de vida, saberes e ofícios tradicionais: quitandeiras e doceiras, benzedeiras, raizeiras, vaqueiros, fiandeiras, tecelãs, a lida campesina, Folias de Reis, apicultura, artesanatos com bambu e lutihieria de violas e violões.

O termo Sagarana foi criado por Guimarães Rosa e contêm expressão do regionalismo típico da região, definidor da identidade e das raízes do povo mineiro. Significa a ligação do homem com a sua terra e cultura, sem perder os vínculos com a universalidade própria do ser humano. “Sagarana” é a união do radical germânico Saga – que significa narrativa épica em prosa ou história com acontecimentos marcantes ou heróicos – com rana, de origem tupi, que quer dizer “à maneira de”, “típico ou próprio de”. Em Sagarana, Cultura e Ruralidades caminham juntas.


Estação Ecológica Sagarana

A vila está localizada no Bioma Cerrado e integra uma região marcada pela presença de cachoeiras, nascentes e veredas. Vizinha ao povoado está a Estação Ecológica Sagarana (EESAG), com 2.340,12 ha. É gerida pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) e se destina à conservação da fauna e flora,  pesquisa científica e educação ambiental. Com vegetação diversa, é composta por mata seca, porções de cerrado com mata de galeria e veredas e, ainda, importantes cursos d’agua, como os Córregos do Boi Preto e Marques. Entre seus principais atrativos naturais está a Trilha e Cachoeira do Boi Preto.

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Cachoeira do Boi Preto – Foto: O Mochileiro


Cresertão

Inaugurado durante o 3º Festival Sagarana, em 2010, o Centro de Referêcia em Tecnologias Sociais do Sertão – Cresertão é um marco para a consolidação de projetos de desenvolvimento regional sustentável no sertão mineiro. Fisicamente, possui diversas tecnologias sociais de permacultura aplicadas, experiências agroflorestais, luthieria, bambuzeria, geodésica, sala multiuso, praças de socialização e hospedaria. O Centro abriga projetos comunitários que envolvem educação, ações ambientais, culturais e comunitárias. Tem como objetivo desenvolver e disseminar tecnologias sociais e fomentar empreendimentos de economia solidária, arranjos produtivos locais e regionais, além de contribuir com o desenvolvimento da agricultura familiar.

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Cresertão – Foto: Maria Ribeiro